A NS5 é uma das proteínas não estruturais do vírus da Dengue (DENV) e está presente em todo o gênero dos flavivirus[1]. É a maior (104 kDa) e mais conservada (67% de identidade entre quatro dos cinco sorotipos) proteína entre os quatro sorotipos clássicos do vírus (DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4). Possui três atividades enzimáticas[1][2].
Na sua região N-terminal, possui atividade de guanililtranferase e S-adenosilmetionina metiltransferase, compreendida em 320 resíduos dessa região[1][3]. A guanililtranferase é responsável por adicionar uma molécula de GTP (trifosfato de guanosina) na ponta 5' do RNA viral após a atividade RTPásica (remover um grupo fosfato) de outra proteína não estrutural do vírus, a NS3. A atividade da NS3 permite que a NS5 forme uma ponte trifostado capeando o RNA. A enzima S-adenosilmetionina metiltransferase então transfere um grupo metil da S-adenosilmetionina para o sétimo nitrogênio da guanina, completando finalmente o capeamento o RNA genômico[4].
Na região C-terminal (entre os resíduos 420 e 900), possui atividade de RNA polimerase, sendo a responsável pela polimerização do RNA intermediário que serve de molde para a síntese de outras moléculas de RNA simples fita de senso positivo que serão encapsuladas no vírion[1][5][6].
Entre os domínios metiltransferase e polimerase, a protéina tem uma sequencia de aminoácidos interdomínios que funciona como sinal para localização nuclear, e já foi encontrada no núcleo de células de mamífero infectadas[7]. Essa sequência é reconhecida com alta especificidade pelas subunidades das importinas (β-importina, principalmente) reconhecedoras de sequencia de localização nuclear, apesar de toda replicação dos flavivirus acontecer no citosol[7].
Nessa região interdomínios, a NS5 também possui uma região de fosforilação pela CK2 (Caseína Quinase II). Mais precisamente, o resíduo de treonina-395. Acredita-se que ambos o sinal de localização nuclear e o sítio de fosforilação pela CK2 sejam formas de regulação da presença dessa proteína no citoplasma da célula infectada, indicando que a atividade da NS5 só é necessária em momentos específicos da infecção[7].
Como o capeamento do RNA é essencial para a replicação do vírus, inibidores da NS5 apresentam-se como possíveis fármacos ou quimioterápicos antivirais contra a dengue[1][2]. Em todos os flavivirus, as proteínas que apresentam atividade de RNA polimerase possuem uma sequência específica de aminoácidos: o motivo Gly-Asp-Asp, típico em RNA polimerases[1].
Ver Também[]
- Dengue
- NS3
- Capeamento 5' do RNA (em inglês)
Referências[]
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 QI, Rui-feng; ZHANG, Ling; CHI, Cheng-wu. Biological characteristics of dengue virus and potential targets for drug design. Acta biochimica et biophysica Sinica, v. 40, n. 2, p. 91-101, 2008.
- ↑ 2,0 2,1 HANLEY, Kathryn A. et al. Paired charge-to-alanine mutagenesis of dengue virus type 4 NS5 generates mutants with temperature-sensitive, host range, and mouse attenuation phenotypes. Journal of virology, v. 76, n. 2, p. 525-531, 2002.
- ↑ KOONIN, E. V. Computer-assisted identification of a putative methyltransferase domain in NS5 protein of flaviviruses and 2 protein of reovirus. J. Gen. Virol, v. 74, p. 733-740, 1993.
- ↑ SHATKIN, A. J. Capping of eucaryotic mRNAs. Cell, v. 9, n. 4, p. 645-653, 1976.
- ↑ NOMAGUCHI, Masako et al. De novo synthesis of negative-strand RNA by Dengue virus RNA-dependent RNA polymerase in vitro: nucleotide, primer, and template parameters. Journal of virology, v. 77, n. 16, p. 8831-8842, 2003.
- ↑ O'REILLY, Erin K.; KAO, C. Cheng. Analysis of RNA-dependent RNA polymerase structure and function as guided by known polymerase structures and computer predictions of secondary structure. Virology, v. 252, n. 2, p. 287-303, 1998.
- ↑ 7,0 7,1 7,2 FORWOOD, Jade K. et al. The 37-amino-acid interdomain of dengue virus NS5 protein contains a functional NLS and inhibitory CK2 site. Biochemical and biophysical research communications, v. 257, n. 3, p. 731-737, 1999.